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16/12/95

Opinião

16/12/95 é uma música de Sam The Kid, faz parte do álbum Pratica(mente) e tem o estilo de storytelling, estilo bastante presente nas obras deste artista, este estilo consiste numa história que nos está a ser contada através de uma música de hip-hop, a história de 16/12/95 são na verdade 2, são duas histórias com a mesma personagem principal (Sam) mas com dois fins diferentes, ambos trágicos.

Por ser uma música no estilo de story telling eu não vou estar aqui a decifrar as dicas ou a descobrir os duplos sentidos na letra, em vez disso, serei o vosso guia na história e vou explicando o que está acontecendo por frases mais curtas.

Música original (canal alternativo): https://www.youtube.com/watch?v=M4Zfrs2AtPM

Dicas na letra

"Estás predestinado para o êxito
A tua vida será um longo e amplo êxito
A menos que tu próprio tenhas quebrado um tal destino"

"Ohhh como é que é mano?"
"Então, como é que é Samuel?"
"Tá-se bem boy"
"Queres vir até ao Alcântara?"
"Vamos boy até ao Alcântara boy
Mas primeiro vai haver uma festa no D. Dinis boy
Aquelas do final de período
Tava a pensar ir até lá e depois bazávamos até o Alcântara boy"
"Então a gente vê-se lá"
"Vá boy um gajo vê-se lá. Aparece lá, vou bazar"
"Acho que sim"
"Fica, boy"

Sam é convidado para ir ao Alcântara, que é um dos principais centros de divertimento noturno da capital portuguesa, mas recusa e diz que vai primeiro a uma festa de final de período.

Fui pá boda do D. Di e a cena era de dondi
Ela olhava mas escondia a sua admiração
E eu olhava e respondia com satisfação
Até porque eu já sabia aquilo que ela sentia

O nome dela é Sofia, e pertencia à associação
Tinha a companhia de um g que não parecia são
Ela passou por mim só pra fazer a apreciação
Perdeu a vergonha, começou na aliciação

Inicia o coro c'a sua mão macia
"Não queres ir lá pra fora onda a rua está vazia"
Não! Prefiro o meu quarto que é a 100 metros daqui. Vens?
"Só se prometeres dar-me momentos incríveis"

Já na festa de final de período, Sam envolve-se com uma rapariga chamada Sofia e acabam por ir para casa dele.

Ela era engraçada e a tuza era tanta
Que eu fui dizer ao Marco que já não ia ao Alcântara
Bazei. Já tou no quarto c'a minha parceira
Perguntou quanta damas tive, eu disse que era a terceira

E foi na boa, fomos à Lua e nem vimos Vénus
Éramos ingénuos, só com 16 anos
Na adolescência pensamos que somos eternos
E não se pensa na consequência dos enganos (Ok)

No final do coito apertei-a com um braço
E no final da noite à porta eu beijei-a na face
Xau ai! Queres que eu vá contigo?
"Não deixa estar a minha casa é ali"
Desceu o prédio e eu nunca mais a vi

Questionei-me mas nem me preocupei assim tanto
Eu sabia que iria vê-la no segundo período

Depois de uma noite de romance entre os dois, Sofia deixa a casa de Sam e “desaparece” por uns tempos, o que não o preocupa pois ele iria eventualmente vê-la no período de aulas seguinte.

Voltei a vê-la em Janeiro
E ela puxou-me p'a um canto da sala de convívio e disse:
"Não me veio o período"
Eu já sabia. "Eu já sabia? Se eu soubesse não subia"
Ccchhh... Tem calma Sofia

Nesse dia ela tremia e eu senti-a nervosa
Já fizeste o teste? "Fiz e ficou cor-de-rosa"
Presumi que era a cor que não devia ser vista
Não sabia o que sentir numa emoção mista

Por um lado era o medo de ser um pai cedo
Mas por outro era o orgulho que qualquer pai sente
E o aborto não ia de acordo com os ideais dela
E ela sabia que por mais que ela quisesse
Os pais dela nunca aceitariam ser avós agora
Mas a escolha é nossa, somos nós agora

"Tu tens esse filho, não te preocupes
Vamos tentar arranjar uma solução para resolver isto"
"Mas nós não temos casa e estamos a estudar e"
"Pá não interessa, não interessa
Eu falo com a minha mãe ou vamos pa casa dos teus pais. Não interessa
Pá, nem que a gente tenha de sair da escola
Vamos trabalhar, vamos tentar arranjar um
Epá, sustentar a nossa cena"
"Ok epá ya, se for assim ya, ok eu tou nessa"
"Então pronto"

No inicio das aulas do segundo período Sofia encontra-se com Sam e dá-lhe uma boa/má noticia, ela estava grávida, Sam não sabe como se sentir pois ter um filho é uma coisa boa e para se celebrar mas é também uma ENORME responsabilidade, por fim acabam ambos por decidir ter a criança.

Passou a ser a minha dama oficial
Foi difícil todo aquele drama inicial
O essencial agora é um sustento para o miúdo
E por o nosso estudo suspenso
Beneficiá-lo num acordo por extenso

Um casório num cartório sem um fato nem vestido
Só as juras de um tempo investido
No amor e no destino que o meu quarto fez
Deu-nos uma gravidez que ia no quarto mês
Mas se houvesse um pouco mais de sensatez
As nossas vidas ainda poderiam ser as mesmas... mas

Sam e Sofia, para poder criar a criança, tiveram de largar os estudos e casaram-se (não houve uma festa, foi uma coisa mais reservada, talvez porque foram obrigados por uma das famílias ou porque quiseram manter as coisas mais escondidas).

Agora é tarde demais, a escola ficou pra trás
E a ecografia apresentou um rapaz
Ponderámos Nuno, Bruno, Daniel ou Tomás
Escolhe tu amor, por mim tanto faz

"Eu gosto de Daniel Mira, rima com o pai"
Disse ela bem disposta, mas na Alfredo da Costa
Ela só dizia: aiiiiiiii
E é quando ele sai, é logo apresentado, as mamas da mãe
Com 3 kg e 300 gramas, sem problemas

Olho comovido ao vê-lo adormecido
A sogra diz que é parecido com um tio falecido
É o ritual da parecença à nascença
Tem a visão especial de saber ver a diferença
Em sinais ensinados pela geração anterior
Numa intuição interior de quem tem experiência

Finalmente a criança nasce, um rapaz saudável, por momentos parece que todos os problemas desaparecem.

 Agora vão ser os avós que vão ensinar aos pais como tomar conta do filho.

Depois da criança nascer veio a divergência
Vi o romance a descer em prol da nossa descendência
Porque eu fui pra casa dela mas não fui bem aceite
Bulia pra ter roupa, fraldas e leite
E ao fim do dia eu vinha feito num 8 do Bulls
E mais à noite saía com o Marco, eu falava e reflectia

Não foi isto que eu queria mas foi o que eu mereci
Eu gosto de rap, até podia ser um bom MC
Mas rimas não pagam contas e eu tenho bués
Estou cansado de ir às compras ao mercado
Com o cash bem contado

Só amava a criança, ela já não me atraía
Porque eu tirava a aliança cada vez que eu a traía
E esta é a altura que tou a pensar em deixá-la
Porque a gente já não fala só discute e o puto gala

Sonhos de bengala no Natal a trocar prendas
Embrulhadas em embalagens agora só são miragens
E no bar com o Marco disse eu não mereci tanto azar
Se eu pudesse voltar atrás iria ao Alcântara-mar

Por fim chegam novamente os maus tempos, a família de Sofia e Sam começam a ter problemas e a não se entender muito bem pois Sam foi morar lá para casa e ele começa a perder o amor por Sofia, muito por culpa de estar infeliz com a sua vida de só trabalhar e não poder seguir o seu sonho, ser um MC, chegando até mesmo ao ponto de trair Sofia.

"Como é possível quebrar o destino
Se eu tenho o meu e cada um tem o seu?"

"Então Samuel, com'é que é? sempre vamos ao Alcântara?"
"Vamos vamos boy, baza boy
Tava ai uma chavala a fincar com um gajo
Mas essa xavala um gajo vê todos os dias, por isso baza pa Alcântara"
"Ya caga nisso. Vamos apanhar tarifa. Olha ali um"
"Olha ali um"

É nos apresentado então uma segunda história onde desta vez Sam vai ao Alcântara em vez da festa do segundo período onde conhece Sofia.

Demos a fuga num fogareiro que figurava
Uma verruga com um tamanho que não se ignorava
Na 24 CBR 600 e eu vejo 6 e há
Mais são eis e arais, que adolescentes

Que vibram com ráteres e quem passa buzina
Mas quem quer ver mulheres que passe então no Benzina
Mas só bate a partir das 4 pra cima então ainda é cedo
Agora é Alcântara e a gente já se aproxima do Pedro

O homem da porta privada, o homem que aborta a entrada
Ou leva a saída a quem se comporta de forma errada
E o Marco aborda-o por dentro porque a nossa moral
Depende de quem nos ponha lá dentro

A espera foi curta para que alguém viesse
E fizesse o sinal ao Pedro que nos desse o acesso
No interior a música, moca, sufocas, o flash
Que pisca na pista enquanto damos a volta da praxe

Se curtes dançar e queres ter atenção
Aqui não há rodas, só tens colunas ou o balcão
Mas o balcão é mais pró big manel e as dançarinas
Que divulgam a pele que apela à provocação
Vejo a coluna disponível, tou com disposição
Tenho toques novos hoje vou dar a exposição
Mas logo a seguir há uma dama sbi que me pede pra subir
E eu não consegui fazer a exibição, que eu queria
Mas se é paparia é bem vinda e esta não é excepção, é bem linda

A pussy já não esta lúcida a musica alucino-a
Roça-me a mama e eu vi-a na cama, cama-leoa

Já dentro da festa Sam descreve-nos um pouco do que vê e encontra-se também com uma mulher que o seduz rapidamente.

Ela tem aliança no dedo mas sem medo da dança
Num contacto sensual dá-me insegurança
Mas quê que me incentiva a ter iniciativa
A dar-me um kiss e cativa-me fisicamente

Enquanto ela mexe eu mexo também
Mas já vejo 10 boys olham e eu desço e venho
A xavala que eu nem sei como chamá-la
Então pergunto o nome e onde é que mora pra puxar um assunto

É a Dora dos Olivais e hoje está sozinha, os pais estão fora
E eu digo que ela é minha vizinha
A seguir ela pergunta, eu respondo mas minto
Sou o Samuel, trabalho na Junta e já tenho 20

Ela tem 26, é muito mais madura
E quanto mais minto ela mais curte, mais me atura
E não veio acompanhada mas tenciona
Levar-me prá zona dela com um coro que funciona
E um corpo que pressiona, beija-me e menciona

Que quer-me imenso e eu vou na
Conversa e penso que eu não passo
Duma conquista, uma vitória, uma atracção aleatória
Um destino que nos uniu no mesmo espaço

Sam conversa um pouco com a mulher, que se revela comprometida, ambos trocam informações pessoais (Sam mente sobre a sua idade e profissão) e Dora (que era o nome da mulher) conta ao Sam as suas intenções de o levar para casa dela, Sam aceita sem pensar duas vezes.

O Marco passa na sala onde eu estou sentado
Com um sorriso e um acenar que diz estás orientado
A minha mão bate na outra quer dizer vou bazar
A cabeça dele diz sim e eu mostro o meu polegar

Já tamos cá fora e a Dora já não sabe o lugar que deixou o bote
E quando acha eu digo vai devagar
Ela já tá apeada mas confessa que fica toda molhada
A guiar mais depressa, conversa fiada

É o pensamento que me vem à cabeça, e eu deixo que ela acelere
Só pede se pode tocar onde ela quiser
E eu deixo, e ela quer abrir o meu fecho éclair
Com uma mão na direcção e a outra na minha erecção

Sou um fantoche, um fétiche que a Dora adora
O pendura que a Dora explora na viatura
O táxi que me leva ao clímax, e eu tou quase a chegar
Ela olha-me e...

Sam avisa Marco (amigo com quem veio para a festa) que está de saída e entra no carro da Dora, enquanto ela o levava para casa dela, a tensão começa a subir e a Dora começa a ação mesmo antes de chegarem a casa, mas acaba por tirar os olhos da estrada e acabam por ter um acidente .

"Cada um é alvo incessante das suas influências, sabes?
E entre as influências há as boas e más, negativas e positivas"

Acordo e há uma luz que me encandeia
Ouço choro no fundo e tenho soro numa veia
Só me consigo lembrar duma coluna num bar
Vem um médico que me fala da coluna lombar
Que nunca mais vou andar
Porque a parti num acidente de automóvel
Em que eu fui o sobrevivente
De repente veio-me o flashback desse dia

Se soubesse tinha ido com a Sofia

No final Sam acorda no hospital, ligado a uma máquina e recebe as noticias de que ira ficar paraplégico e que ele é o único sobrevivente do acidente.

Na ultima frase Sam diz que preferia ter ido com a Sofia, clara referência à primeira história.

E tu? qual história escolhias? Nenhuma das duas ? Cuidado com a noite…

Atenção! blogue baseado apenas na minha opinião, se não concordares ou tiveres interpretações e opiniões diferentes entra em contacto comigo pelas redes sociais a baixo para que possamos discuti-las, estou aberto a debates e quem sabe não mudes a minha opinião ! 

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